Aponta pra fé e rema!

domingo, 28 de novembro de 2010

"Mais que linda: Viva, tensa, confusa. Lilian Lemmertz era meio rainha. E nobre.





Somos todos imortais. Teoricamente imortais, claro. Hipocritamente imortais. Por que nunca consideramos a morte como uma possibilidade cotidiana, feito perder a hora no trabalho ou cortar-se fazendo a barba, por exemplo. Na nossa cabeça, a morte não acontece como pode acontecer de eu discar um número telefônico e, ao invés de alguém atender, dar sinal de ocupado. A morte, fantasticamente, deveria ser precedida de certo “clima”, certa “preparação”. Certa “grandeza”.

Deve ser por isso que fico (ficamos todos, acho) tão abalado quando, sem nenhuma preparação, ela acontece de repente. E então o espanto e o desamparo, a incompreensão também, invadem a suposta ordem inabalável do arrumado (e por isso mesmo “eterno”) cotidiano. A morte de alguém conhecido ou/e amado estupra essa precária arrumação, essa falsa eternidade. A morte e o amor. Por que o amor, como a morte, também existe – e da mesma forma dissimulada. Por trás, inaparente. Mas tão poderoso que, da mesma forma que a morte – pois o amor é uma espécie de morte (a morte da solidão, a morte do ego trancado, indivisível, furiosa e egoisticamente incomunicável) – nos desarma. O acontecer do amor e da morte desmascaram nossa patética fragilidade.

Como amor e morte não se separam – feito quem diz “era uma vez”, conto: na tarde de sábado, estava eu assustadamente dentro do amor (eu não acreditava mais que o amor existisse, e a vida desmentia) quando o telefone tocou. Do outro lado, alguém me deu a notícia da morte de Lilian Lemmertz. E eu também não acreditava mais que a morte existisse, naquele ou neste momento, quando preciso me embriagar um pouco com urgências de vida porque se considerar a cada minuto a possibilidade da morte – então paro imediatamente de viver. Fico de olhos arregalados, imóvel, à espera do poço previsto.

Como quem muda um canal de televisão, continuei vivo. Pra rebater a morte, fui ver o show de vida de Elza Soares. E bebi e fumei e conversei e amei mais e mais ainda. Mas dentro de qualquer movimento, a morte de Lilian. E dei pra lembrar de uma única conversa nossa, quando ela fazia Esperando Godot, e fui entrevistá-la. Falamos uma tarde inteira. Ela era mais que linda. Era viva, sarcástica, tensa, confusa. Meio desmedida. E rainha.

Lilian era nobre. Eu pensava em atrizes, enumerava: Marília Pera, Fernanda Montenegro. E Lilian Lemmertz, com aquela raça, aquele porte, a boca inesperadamente frágil e amarga, desmentindo o brilho às vezes frio dos olhos. Um certo ar de Jeanne Moreau, e ninguém como ela. Que nem chegou a ter seu grande papel, sua Fedra, sua Petra, Seu Pixote, sua hora de estrela. Brilhante, mas, ao fundo, aquele ar de humanidade despedaçada que Marília também suporta. Ouvir Lilian falando era ficar arrepiado, olhos cheios de lágrimas: o humano excessivo aterroriza e maravilha. Igual à morte e ao amor.

Guardo Lilian na memória não como a professora de Lição de Amor, a bêbada de Caixa de Sombras ou a dona-de-casa de Baila Comigo – escolho guardá-la metida na pele de um dos vagabundos de Samuel Beckett. Barriga falsa, suspensórios, calças pelo meio da canela, chapéu-coco. Meio clown, esperando por Godot. Que chegou, afinal. Lilian estava sozinha. Ele a levou consigo. Terá sido frio seu súbito abraço? Quem sabe não.

Agora, no fim da noite de domingo, longe do colo morno do amor, a morte visita o apartamento e fico pensando em como recuperar minha imortalidade após este próximo ponto final. Preciso dela, amanhã de manhã. Quando o mundo continuará igual. Só que sem Lilian. E, portanto, um pouco mais feio, um pouco mais sujo. Mais incompreensível, e menos nobre."

Caio Fernando Abreu.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

"Eu me descubro ainda mais feliz a cada pedaço seu e de tudo o que é seu... Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer. Eu queria assinar um contrato com Deus: se eu nunca mais olhar para homem nenhum no mundo, será que ele deixa você ficar comigo pra sempre? Eu descobri que tentar não ser ingênua é a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira não me dá medo porque ser inteira já é ser muito corajosa, eu descobri que vale a pena ficar três horas te olhando sentada num sofá mesmo que o dia esteja explodindo lá fora. E quando já não sei mais o que sentir por você, eu respiro fundo perto da sua nuca, e começo a querer coisas que eu nem sabia que existiam. Quando a gente foi ver o pôr-do-sol na Praça e a gente ficou abraçado, e a gente se achou brega demais, e a gente morreu de rir, eu senti um daqueles segundos de eternidade que tanto assustam o nosso coração acostumado com a fugacidade segura dos sentimentos superficiais. Eu olhei para você com aquela sua jaqueta que te deixa com tanta cara de homem e me senti tão ao lado de um homem, que eu tive vontade de ser a melhor mulher do mundo. E eu tive vontade de fazer ginástica, ler, ouvir todas as músicas legais do mundo, aprender a cozinhar, arrumar seu quarto, escrever um livro, ser mãe. E aí eu só olhei pra bem longe, muito além daquele Sol, e todo o meu passado se pôs junto com ele. E eu senti a alma clarear enquanto o dia escurecia. Eu te engoli e você é tão grande pra mim que eu dedico cada segundo do meu dia em te digerir. E eu não tenho mais fome, e eu tenho que ter fome porque eu não quero você namorando uma magrela. E eu sonhei com você e acordei com você, e eu te olhei e falei que eu estava muito magrela, e você me mandou dormir mais, e me abraçou. Eu preciso disfarçar que não paro mais de rir, mas aí olho pra você e você também está sempre rindo. Se isso não for o motivo para a gente nascer, já não entendo mais nada desse mundo. E eu tento, ainda refém de algumas células rodriguianas que vez ou outra me invadem, tentar achar defeito na gente, tentar estragar tudo com alguma sujeira. Mas você me deu preguiça da velha tática de fuga, você me fez dormir um cd inteiro na rede e quando eu acordei o mundo inteiro estava azul. Engraçado como eu não sei dizer o que eu quero fazer porque nada me parece mais divertido do que simplesmente estar fazendo. Ainda que a gente não esteja fazendo nada. Eu, que sempre quis desfilar com a minha alegria para provar ao mundo que eu era feliz, só quero me esconder de tudo ao seu lado. Eu limpei minhas mensagens, eu deletei meus emails, eu matei meus recados, eu estrangulei minhas esperas, eu arregacei as minhas mangas e deixei morrer quem estava embaixo delas. Eu risquei de vez as opções do meu caderninho, eu espremi a água escura do meu coração e ele se inchou de ar limpo, como uma esponja. Uma esponja rosa porque você me transformou numa menina cor-de-rosa. Você me transformou no eufemismo de mim mesma, me fez sentir a menina com uma flor daquele poema, suavizou meu soco, amoleceu minha marcha e transformou minha dureza em dança. Você quebrou minhas pernas, me fez comprar um vestido cheio de rendas e babados, tirou as pedras da minha mão. Você diz que me quer com todas as minhas vírgulas, eu te quero como meu ponto final."




2 ano e 4 meses de mto looooooove

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

"O que eu preciso não esta em Paris, Nova Iorque ou Londres. Não esta nas vitrines das lojas, nem no comercial da televisão. Não se compra com papel, não vem embalado, não mata a fome. Não é de vidro, nem de plástico, nem de ouro. O que eu preciso esta bem aqui, na minha frente. Tem nome, endereço e telefone e, diga-se de passagem, um sorriso lindo."

terça-feira, 16 de novembro de 2010

"Toda vez que eu digo adeus eu quase morro. Toda vez que eu digo adeus aos deuses eu recorro. Nenhum deus contudo parece me ouvir. Eles vêem tudo e te deixam partir. Quando estas a só um mar de flor em volta, sabiás de algum lugar cantam o amor em volta. Não há som melhor. Mas seu tom maior se torna menor toda vez que eu digo adeus. 

 

Nenhum deus contudo parece me ouvir"

"Não é porque eu sujei a roupa bem agora que eu já estava saindo. Nem mesmo porque eu peguei o maior trânsito e acabei perdendo o cinema. Não é porque não acho o papel onde anotei o telefone que eu tô precisando, nem mesmo o dedo que eu cortei abrindo a lata e ainda continua sangrando. Não é porque fui mal na prova de geometria e periga d'eu repetir de ano, nem mesmo o meu carro que parou de madrugada só por falta de gasolina. Não é por que tá muito frio, não é por que tá muito calor... O problema é que eu te amo! Não tenho dúvidas que com você daria certo. Juntos faríamos tantos planos. Com você o meu mundo ficaria completo. Eu vejo nossos filhos brincando e depois cresceriam e nos dariam os netos.

A fome que devora alguns milhões de brasileiros, perto disso já não tem importância. A morte que nos toma a mãe insubstituível de repente dela, já nem me lembro. A derrota de 50 e a campanha de 70 pertem totalmente seu sentido. As datas, fatos e aniversariantes passam sem deixar o menor vestígio. Injúrias e promessas e mentiras e ofensas caem fora pelo outro ouvido. Roubaram a carteira com meus documentos, aborrecimentos que eu já nem ligo.

Não é por que eu quis e eu não fiz. Não é por que não fui e eu não vou... O problema é que eu te amo. Não tenho dúvidas que eu queria estar mais perto, juntos viveríamos por mil anos por que o nosso mundo estaria completo. Eu vejo nossos filhos brincando com seus filhos e depois nos trariam bisnetos.

Não é porque eu sei que ela não virá que eu não veja a porta já se abrindo e que eu não queira tê-la, mesmo que não tenha a mínima lógica nesse raciocínio. Não é que eu esteja procurando no infinito a sorte para andar comigo. Se a fé remove até montanhas, o desejo é o que torna o irreal possível. Não é por isso que eu não possa estar feliz, sorrindo e cantando. Não é por isso que ela não possa estar feliz, sorrindo e cantando. Não vou dizer que eu não ligo, eu digo o que eu sinto e o que eu sou... O problema é que eu te amo.

Não tenha dúvidas pois isso não é mais secreto. Juntos morreríamos, pois nos amamos e de nós o mundo ficaria deserto. Eu vejo nossos filhos lembrando com os seus filhos que já teriam seus netos..."

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

“Hoje eu ouvi nossa canção.


Tanto tempo depois, tantas fugas nesse tempo em que evitei nosso tema, com medo de chorar muito, lembrar de você, enlouquecer. Ou com medo de voltar forte demais a saudade e de não resistir a te procurar, te ligar.

Algumas coisas nunca sumiram em mim, meu orgulho já sumiu um pouco, mas meus medos continuam aqui e ali, mas ainda rio sozinha de mim mesma quando minimizo esse sentimento tolo, sarcástica, rio do meu coração. Ouvi sozinha nossa canção. Sem graça tentei encontrar sentido nas palavras. Em vão, essa só tem sentido quando se está feliz por amar.

Você ainda me maltrata, aperta meu peito, que arde, queimando em algum lugar que não consigo encontrar e tirar de mim, mesmo que à força, ainda que eu arranque parte da pele e tire sangue, a dor não é substituída.

A nossa música, me fez chorar demais e eu percebi porque fujo dela todas as vezes, porque você não está aqui para falar como ela é bonita de ouvir, ou da quantidade de coisas que ela pode nos dizer ou ainda me prometer um mundo de felicidade com trilha sonora.

É como um fantasma, a nossa música, mas com certa beleza que não sei explicar o que é, com um medo intenso de reaver emoções que eu quis guardar.

Ouvi hoje até o fim, trêmula, derramando lágrimas em cada estrofe, apertando os olhos e pensando em você, na sua voz (que por mais que eu ache que não vou lembrar, eu lembro), em uma quantidade de coisas que eu quis dizer e não tive coragem e agora estão presas em mim, algemadas pra onde eu resolver me atirar, na intenção de te abandonar pra sempre.

A coragem que eu achei que existia, transformou-se numa dúvida que me cobriu, a dúvida do quanto ainda eu posso te amar.

Nossa música foi das poucas coisas que ficaram pra eu lembrar. Pra eu mudar o sentido dela mesmo que eu acredite ser impossível.

Saudade da sua voz, saudade de ouvir com você.”

terça-feira, 9 de novembro de 2010

"Você tem cheiro de roupa limpinha com mente suja e eu quero te rasgar inteiro. Mas apenas te dou um beijinho no rosto. Preciso me comportar."
"Eu não espero que você seja o-grande-amor-da-minha-vida, parei de acreditar nisso na quinta série quando a moça que trabalhava na biblioteca do meu colégio me disse que estava se separando do marido dela. Meus pais estão juntos até hoje, mas a gente sabe bem como vão as coisas ali. A moça da biblioteca chorou. Não quero que você me faça chorar. Não quero que você seja um motivo ruim na minha vida. Você é motivo de sorrisos, razão pra eu acordar num dia de chuva e tomar banho e mudar de roupa porque eu sei que você vai passar aqui, vai trazer algo congelado pra gente ver ser aquecido no forno e comer enquanto falamos bobagens. Não quero te odiar. Não quero falar mal de você pros outros. Pras minhas amigas. Quero falar mal de você como quem ama. Pois é, Carla, ele nunca lembra de desligar o celular antes de dormir e sempre alguém do trabalho liga. Sabe, eu quero dizer isso. Que o máximo de irritação que você me provoca é me acordar de manhã cedo falando bobagens que parecem ser importantes no celular. Não quero que você me largue. Não quero te largar. Não quero ter motivos pra ir embora, pra te deixar falando sozinho, pra bater o telefone na sua cara. E eu não tenho medo que isso aconteça (eu nunca tenho), eu fiz isso com todos os outros. É só que dessa vez eu queria muito que fosse diferente. Dessa vez, com você, eu queria que desse certo. Que eu não te largasse no altar. Que eu não te visse com outra. Que eu não tivesse raiva. Que você não passasse a comer de boca aberta. Que você entendesse o meu problema com chãos de banheiro molhados pra sempre. Que você gostasse e cuidasse de mim como ontem à noite você cuidou. Eu quero que dê certo, não estraga, por favor. Não estraga não estraga não estraga. Posso pôr um post-it na sua carteira? Mesmo que a gente não fique juntos pra sempre. Mesmo que acabe semana que vem. Nunca destrua o meu carinho por você. Nunca esfrie o calorzinho que aparece dentro de mim quando você liga, sorri ou aparece no olho mágico da minha porta. Mesmo que você apareça na porta de outras mulheres depois de me deixar. Me deixe um dia, se quiser. Mas me deixe te amando. É só o que eu peço."