Aponta pra fé e rema!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011







"Desde agora, cinco horas da tarde, até a hora em que for dormir, estarei sozinho, porque disse a todos os meus amigos que estava muito cansado e não queria ver ninguém. A menininha para quem cuidadosamente reservei esse tempo livre nem se deu o trabalho de me avisar que não viria. Descubro com melancolia que o meu egoísmo não era tão grande assim, pois dei ao outro o poder de me magoar. Meninina, foi com carinho que lhe dei esse poder. É com melancolia que a vejo usá-lo. Os contos de fada são assim. Uma manhã, a gente acorda e diz: "Era só um conto de fadas..." E a gente sorri de si mesma. Mas, no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida. A espera, os passos leves. Depois as horas que correm frescas como um riacho em meio à relva sobre seixos brancos. Os sorrisos, as palavras sem importância que são tão importantes. Escutamos a música do coração: é linda, linda para quem sabe ouvir... Queremos muitas coisas, é claro. Queremos colher todos os frutos e todas as flores. Queremos sentir o cheiro de todos os campos. Queremos brincar. Será mesmo brincar? Nunca sabemos onde começa a brincadeira nem onde ela acaba, mas sabemos que somos carinhosos. E ficamos felizes. Não gosto da estação interior que substituiu minha primavera: uma mistura de decepção, de secura e de rancor. Mergulho num tempo vazio onde não tenho mais motivo para sonhar. O mais triste num sofrimento é se perguntar : "Vale a pena?" Vale a pena todo esse sofrimento por quem nem mesmo pensa em avisar? Certamente não. Então nem sofrimento se tem mais, e isto é ainda mais triste. Não há Pequeno Príncipe hoje, nem haverá nunca mais. O Pequeno Prícipe morreu. Ou então tornou-se cético. Um Pequeno Principe cético não é mais um Pequeno Príncipe. Fiquei magoado com você por tê-lo destruído. Também não haverá mais carta, nem telefonema, nem sinal. Não fui muito prudente, e não pensei que pouco a pouco, com isso, arriscava um pouco de sofrimento. Mas eis que me feri na roseira ao colher uma rosa. A roseira dirá: "-Que importância eu tinha para você?" Chupo meu dedo, que sangra um pouquinho, e respondo: "-Nenhuma, roseira, nenhuma. Nada tem importância na vida. (Nem mesmo a vida.) Adeus roseira."


'O amor do pequeno príncipe'

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