"Quem amamos sempre deixamos para depois. Porque é da família e vai entender a urgência de nosso trabalho. "Um minutinho, meu filho. Já te ligo, amor. Agora estou ocupado. É uma ligação importante." Só que o filho cresce e para de nos procurar. Só que o pai morre e não descobrimos o que ele queria. Só que a esposa se cansa da solidão e pede o divórcio! Reclamamos da fila da Previdência, da fila do... SUS, da fila dos bancos. Mas os familiares vivem em fila para serem atendidos dentro de casa. É a fila do amor que não anda. Do amor que pensa que terá tempo em seguida. O tempo adiante será o mesmo tempo de agora, a mesma falta de tempo. Filhos pequenos são mendigos em seus quartos, esperando que você desligue o telefone, que você preste atenção. Maltratamos quem a gente gosta com adiamentos e desculpas. A vida passa e a promessa de conversa não se realiza. E não sabemos o que o nosso menino estudou, o que a mulher criou no trabalho, o que a mãe precisava comentar sobre seu passado. Abandonamos a família porque desejamos ter calma. Ter folga. Ter férias. Melhor falar nervoso do que não falar. Melhor um pouquinho junto do que nada. Melhor o rascunho do que a idealização. Interrompa suas atividades para ouvir a família, mesmo que seja rápido, mesmo que seja de qualquer jeito. A conversa é do momento, a conversa é um momento. É possível desistir de dizer. É possível perder a vontade. Não existe como recuperar lembranças.
Cuide da família. Agora!"
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