"Ele era o meu príncipe, assim, desses encantados. Desses que as crianças ouvem nas histórias antes de dormir. Sim, ele era meu príncipe. Principio de tudo que eu era, principalmente, o que tinha. Era ele um príncipe do tipo doce, gentil e atencioso. Era o príncipe que eu nunca sonhei que teria, talvez nem soubesse que existia, até o conto de fadas acabar.
A verdade é que a gente não vê nada direito quando está no meio da situação. Meu príncipe, no principio, era chato para mim. Vivia me podando, me cuidando, e eu, com meus olhos sempre furtivos, minha dificuldade em esclarecer as coisas e confundir os sentimentos, não dava a ele o título que merecia, status de príncipe, talvez fosse coisa de gente principiante nesse jogo, e eu era.
Mas eu, que de princesa nunca tive sequer um suspiro, foi desencantando meu príncipe. Fui deixando que ele virasse algo inexplicavelmente feio, num contrário paradoxal à história em que a princesa beija o sapo, meu príncipe regrediu. E foi principar em outro castelo. Achou lá, uma nova princesa, com novos princípios, com vestido longo e tudo mais.
Eu fiquei sem príncipe, mas com histórias lindas para contar. Histórias que um dia, quem sabe, embalarão o sono de novas crianças, que sonharão, felizes, com o dia em que encontrarão o príncipe que eu tive. Mas deixei escapar."
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